O comportamento dos pais
serve de exemplo para os filhos e o que se deve ensinar é o limite, o dever e o
direito, pois só assim a criança aprende que a cada ação, existe uma consequência.
Veja a opinião da Psicopedagoga Maria Irene Maluf.
Autoridade e Disciplina
A verdadeira
autoridade se baseia no velho e bom exemplo de autodisciplina. Mas como é fácil
confundir os diferentes sentidos dessa palavra, encontramos muitos pais que
apenas se lembram de e usam um desses seus significados: castigar e dar ordens.
O que está longe do verdadeiro sentido da autoridade como geradora de
disciplina, ou melhor ainda de autodisciplina.
Disciplina
vem da palavra “Discipulus”, ou seja, “alguém que aprende”. Assim, disciplina
não pode ser imposta pela força, pois isso contraria o princípio básico, da ideia
de que ser disciplinado implica na admiração espontânea por alguém que nos
incentiva a sermos parecidos com ele.
Exige autocontrole
e serenidade, indispensáveis para transmitir segurança e admiração a uma
criança.
Para
promoverem esse compromisso da criança com certos princípios e comportamentos
que desejem que seus filhos tenham, os pais devem se basear na necessidade de
apego das crianças a eles e lhes dar a oportunidade de aprenderem no dia a dia
observando o seu comportamento.
As crianças pequenas,
até mesmo para se sentirem protegidas, tendem a admirar e imitarem seus pais.
Elas os veem como perfeitos e mesmo quando essa ideia é posta em dúvida,
continuam se esforçando para acreditar que eles são modelos para o mundo.
Ao crescerem,
seu círculo de conhecimentos vai aumentando enquanto a sua ingenuidade vai
diminuindo e começam a admirar e querer imitar outras pessoas, como professores
e amigos.
O desejo das
crianças de serem amadas pelos pais permanece por muito tempo e por isso tendem
a serem “discípulos” desses até uma época além da infância. Quanto mais forte
esse vínculo, menos chance terão de admirar e imitar líderes negativos durante
sua adolescência. Por isso é importante se preocupar com a disciplina desde
cedo.
Crianças
tendem a querer sempre ser discípulos de seus pais, ou seja, seguir sua
disciplina pessoal como exemplo, em uma admiração amorosa. Ensinar pelo exemplo
é um desafio, pois exige grande dose de autocontrole e disciplina no dia a dia
e em todas as áreas de nosso comportamento. Mas o resultado compensa.
É importante
nos lembrarmos de que mesmo que a criança ame muito e admire seus pais e os
queira imitar e agradar e sempre procure agir com a disciplina imposta por
eles, essa é uma tarefa difícil para alguém tão frágil.
E mais difícil será se os
pais não transmitirem segurança e uma imagem clara do que eles desejam que o
filho imite e aprenda.
A atitude dos
pais como modelo e a compreensão pelos deslizes ocasionais dentro de um padrão
de serenidade, serão muito mais atuantes na formação da criança, do que
castigos, longas conversas ou reprimendas.
Quem não se
lembra como se sentia frustrado e humilhado quando os pais o castigavam ou
forçavam a fazer coisas absolutamente contra a sua vontade, sem nenhuma
consideração?
Lembrando de
nossa própria infância, teremos meios seguros de compreender como o desejo
impaciente de alguns pais em querer moldar os filhos é contraproducente.
O que se deve
ensinar é o limite, o dever e o direito, pois assim a criança aprende que a
cada ação, existe uma consequência. Que não significa castigo, mas uma tomada
de responsabilidade sobre seus atos. Isso é disciplinar, ensinar o autocontrole.
Com o castigo não se cria autocontrole e, portanto não se tem disciplina
verdadeira. Disciplinado é quem age corretamente de acordo com padrões
introjetados de conduta ao longo de sua vida, mesmo quando está sozinho. É a
questão da ética e da moral.
Desde bebê o
ser humano observa e imita o meio ambiente. Assim, a clareza naquilo que se
deseja da criança é importante desde o princípio. Proibir coisas e em seguida
permitir, não cria padrões sólidos de conduta e é um comportamento que deve ser
evitado a todo custo.
Crianças
criadas com rotinas saudáveis, adequadas à sua idade, tendem a ser muito mais
equilibradas em seu comportamento durante a adolescência.
De modo geral,
até os três anos, a criança deve ser introduzida com afetividade nas suas
primeiras tarefas familiares: arrumar seus brinquedos, guardar seus pertences,
treinar atos de higiene pessoal, aprender a falar com as pessoas de forma
educada, respeitar as coisas dos outros, cumprir ordens dos mais velhos, etc. A
responsabilidade se ensina nessa idade. E é claro que também depende do
exemplo!
Com a ida à escola,
novas exigências são introduzidas em suas vidas, através do contato com os
professores e coleguinhas. Erram os pais que sempre dão razão aos filhos quando
estes são repreendidos na escola: as crianças sabem quando estão agindo em
desacordo com a disciplina que introjetaram em sua casa e perceberão facilmente
que seus pais não estão sendo coerentes e serenos em sua atitude. Além disso,
se os pais o confiaram a alguém, no caso na sua professora, torna-se conflitivo
para a criança que estes contradigam a autoridade dessa pessoa!
Crianças com
mais de sete anos, têm condições de responderem por boa parte de seu
comportamento e os pais devem com afetuosa compreensão, procurar recordar-lhes
de exemplos de atitudes que lhes foram passadas em casa. Não se trata de ser complacente,
mas de não ser intransigente com a própria natureza humana. Crianças criadas
com disciplina , reagem bem a esse tipo de conduta.
Saber
distinguir o certo do errado significa dominar interiormente uma escala de valores,
possuir a autodisciplina, que só uma educação criteriosa e cuidada permite
formar.
Se os pais
tiverem comportamentos coerentes com seus ensinamentos e agirem de forma clara
e serena, as crianças se sentirão com liberdade de questioná-los em relação ao
que lhes parece certo e errado.
Repreender é
tarefa para ser feita em um momento de calma e com serenidade. Gritos e
castigos físicos não condizem com disciplina e exemplo. Esperar a hora certa é
tão importante quanto encontrar as palavras certas para criticar, explicar,
repreender, mostrar as consequências dos atos.
Críticas
sempre são bem vindas quando são feitas de forma amorosa e construtiva. Quando
apontam um caminho, quando acrescentam esclarecimentos. Mas para criticar é
preciso também ter autodisciplina, ser um adulto bem formado e fazê-lo de modo
sereno.
Autora:
Maria Irene Maluf – Especialista em Psicopedagogia e em Educação Especial,
Coordenadora/SP do Curso de Especialização em Neuropedagogia do Instituto
SaberCultura
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